Um dos esportes que mais ganham adeptos no mundo, a corrida de rua tem ganhado cada vez mais a cabeça dos brasileiros. Sozinho ou em grupos, é cada vez mais comum encontrar pessoas com disposição para enfrentar o verão quente, a disputa por espaço com os carros e, em alguns casos, a falta dos materiais e orientações necessárias para a boa prática esportiva. Mas será que essa busca incessante pelo corpo perfeito ou por uma vida mais saudável pode levar a alguns prejuízos a esses novos atletas?
Entre as lesões mais comuns enfrentadas pelos novos corredores estão as dores posteriores no pé e na perna. O grande vilão é o Tendão de Aquiles. Esse tendão é composto por fibras de dois músculos da panturrilha, o gastrocnêmio e o sóleo, e insere-se na tuberosidade posterior do osso calcâneo. É o tendão mais forte e espesso do corpo. Ele suporta cargas de até 12,5 vezes o peso do corpo durante uma corrida, contribuindo para uma alta taxa de lesões.
O Tendão de Aquiles é o tendão que mais comumente se rompe no corpo humano, e a incidência desta lesão vem aumentando nos últimos anos. As causas são multifatoriais, relacionadas à sobrecarga mecânica e características pessoais. Homens na meia idade que usam medicamentos à base de corticoesteroides e fluoroquinonas (alguns antibióticos) estão no grupo de maior risco. Fatores externos como exercícios pilométricos – exercícios com saltos e lançamentos, que envolvem um alongamento da musculatura seguido de uma rápida contração (fase concêntrica) – treinos em superfícies desconhecidas ou irregulares, e uso de calçados inapropriados também aumentam as chances de lesões.
O diagnóstico das tendinopatias do Aquiles são iminentemente clínicos. Entre as queixas mais comuns estão um histórico de dor e rigidez na parte posterior do calcanhar que se inicia na manhã e piora com a atividade física. Outra característica importante é a dor severa no dia posterior à atividade física. No exame físico, chama a atenção o aumento de volume na região de inserção do tendão calcâneo e a dor à palpação local, especialmente à digitopressão entre o polegar e o indicador.
Associações importantes das tendinoses do Aquiles são a bursite retrocalcânea e a deformidade de Haglund. Na primeira, há um aumento importante da dor à dorsiflexão do pé – puxar o pé para cima – enquanto que, na última, há um aumento de volume ou proeminência importante na parte posterior do calcanhar, com grande incômodo ao calçar sapatos.
Entre os exames mais importantes para o diagnóstico estão a ultrassonografia (USG) e a ressonância magnética (RNM). A USG tem custo melhor, maior acessibilidade e mais rapidez, e a grande vantagem de poder ser feito o exame dinâmico do tendão, com a mobilização do mesmo durante o processo. Já a RNM apresenta uma maior clareza de detalhes, sendo bastante importante para detectar lesões parciais do tendão, ou em caso de rupturas completas, a extensão da lesão e o grau de retração das fibras.
Para a grande maioria das doenças do tendão de Aquiles, o tratamento é iminentemente conservador (85% a 90%), ou seja, não cirúrgico. Envolve um curto período de imobilização em alguns casos, mas com cuidado para não aumentar o risco de rigidez. O repouso esportivo e a reabilitação fisioterápica são indispensáveis para preservar a saúde do atleta, seja ele profissional ou recreacional, e trazer a ele condições de se recuperar para o esporte. Entre as medicações, os anti-inflamatórios não hormonais e analgésicos têm sua indicação cada vez maior, enquanto a prática de infiltração com qualquer tipo de remédio tem diminuído. O uso de palmilhas, especialmente para elevar a parte posterior do pé, pode trazer benefícios a curto e longo prazos.
Em quais casos é preciso cirurgia?
Infelizmente, alguns casos que se tornam crônicos e outros sem resposta aos métodos acima necessitam de cirurgia. Cada vez mais, com o emprego de novas técnicas e de novos implantes, a segurança e eficácia desses procedimentos cirúrgicos têm recuperado os esportistas de maneira mais rápida e duradoura.
É sempre importante ressaltar que o esporte, profissional ou recreacional, deve ser sempre acompanhado por um profissional de saúde e educador físico para que os benefícios possam aparecer.